Os últimos tempos tem sido complicados, com o regresso definitivo da Alemanha e o restabelecer da ordem cá em casa. Agora tudo está bem, arranjado, limpo e organizado.
Há já algum tempo que não saía para fotografar com calma, ao meu ritmo, e nada como longas exposições para nos fazer parar e pensar um pouco. Como habitualmente e típico da época, estava vento e a chuva prometia cair não tardava muito, mas mesmo assim resolvi pegar na máquina e no tripé e ir em direcção à praia.
A Barra é sempre um ponto de encontro da maioria dos pescadores à cana aqui da zona e o Paredão está sempre enfeitado com canas apoiadas nos suportes - muitas vezes artísticos e originais. Duas, três, quatro canas cada um, à espera da próxima mordida do pobre peixe. A maioria leva mini-peixes para o jantar mas isso não os demove do vento frio.
No fundo, os fotógrafos são como os pescadores: passamos horas a fio a tentar obter a imagem perfeita e mesmo que só consigamos uma, vamos para casa todos contentes e orgulhosos. Pode ser um peixe miúdo, mas a satisfação de o ter pescado é superior a tudo isso.

E não são só os pescadores que usam instrumentos e utensílios artesanais e improptu na sua arte: para a criação desta imagem foi usado um utensílio que serve, usualmente, para proteger os olhos da intensa luz num processo de soldadura! O vidro da máscara de soldar é um óptimo e extremamente forte filtro de densidade neutra, ainda que com uma clara predominância de cor - no meu caso, muito verde - mas nada que um pequeno deslizar do slider no balanço de brancos no Lightroom não corrija de imediato.
No total são 11 stops de luz que consigo cortar e, com isso, aumento o tempo de exposição na mesma medida. A exposição "correcta" para esta cena seriam 1/10s @ f/8 e ISO200. Depois de colocado o filtro, o tempo de exposição passa para os 240 segundos!, mantendo as restantes variáveis constantes (para os mais atentos, isso são 11-1/3 stops).
Com tempos de exposição tão longos, tudo o que mexe ganha outra vida, mais etérea. A água torna-se suave como algodão doce e as núvens transformam-se num arrastar de cores pastel.

D700 | 24-70 f/2.8 | 240s @ f/11 | ISO200

1 comment:

CubaRita said...

Passei para ver as novidades e não podia deixar de dizer que está fenomenal, não há palavras! está mesmo um registo muito bonito e profundo. Vocês merecem e têm que ir mais longe!

Um beijo grande com ares Lisboetas!
Ritinha

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